Boxing Music

Jul 4, 2007

O medo (ou pânico, nem sei...)

Realmente até hoje (ou até Domingo passado), dizia eu que tinha medo de andar de avião. E tinha. Mas nunca (nem mesmo ao furar o tímpano, pois agora chego à conclusão que não foi medo, foi "apenas" dor), nunca, o tinha sentido. Duas coisas completamente diferentes.

Estou eu a fazer escala em Milão e começa o céu a ficar pesado e preto. "Ladies and Gentelmen, we're sorry but there is a delay on the flight coming from Lisbon, because of the weather". Pimba, fiquei logo pregada ao banco da sala de espera.

De 10 em 10 minutos pediam desculpas, mas íamos ter de esperar mais 2o. Que medo.. comecei logo a dar largas à imaginação (no meio dos luminosos raios da assustadora trovoada que se sentia nesta cidadezinha que já me começa a dar tristezas demais) e, para ajudar à festa, um portuguezinho "ah, lá em cima a trovoada é bué da fixe... a sério. É bué da fixe" (claro que eu já lhe tinha dito que estava em pânico, na tentativa de não ficar abandonada no avião - foi em vão totalmente). Mas continuando, dizia ele "é bué da fixe.. a cena é que o problemas das trovoadas é que causam diferenças de temperatura e, pimba, lá vem um poçinho de ar, mas é uma sensação bué da fixe na barriga...".
Começou-me o queixo a tremer... Liguei ao meu pai que me rejeitou e respondeu por SMS "estou na missa". Respondi "Boa, reze uma por mim".

O portuguezinho continua a sua história linda e sai-se com: "olha (com um tom de que só faltava sair o xabala!), um amigo meu noutro dia, apanhou tanto poço de ar, tanto poço de ar, que estava a jantar e ficou com a comidinha toda no tecto... Até as máscaras de oxigénio caíram."

Para mim, aí é que eu realizei tudo: até àquela data eu nunca dei o devido valor (nem atenção) às hospedeiras e hospedeiros (os de hoje em dia, chiquérrimos comissários de bordo) naquelas macacadas do início de voo. Bem, nesse Domingo, para além de ouvir tudo como se estivesse a ver o melhor filme do ano, só me faltou tomar notas no panfleto que também explica (o que está ao lado do saquinho para onde se vomita).

O medo foi de tal maneira, que senti a total falta de força nas pernas e no rabo, a pior sensação que tive até hoje. De impossibilidade, impotência. Mandei outra SMS ao meu sr. "saia já da missa sff, preciso de falar". Chorava, chorava. Foi por um triz que não entrei no avião. Até chegar mesmo à porta, perguntei cerca de 3 vezes, a 3 pessoas diferentes, se o que estávamos a fazer era seguro. Por que é que o piloto responde sempre com ar irónico (já não foi a primeira vez que perguntei) "hehe, acho melhor não vir, porque acho que hoje o avião vai cair"??? Só consigo acreditar que eles nunca estão 100% seguros do que fazem e, por isso, preferem dar aquela resposta, numa de "se cair, eu não garanti nada".



Entro no avião, calho nos luagrzinhos de 3, mas.............. SOZINHA. Estava tudo contra.. era eu a rir-me para 2 italianas que vinham para Portugal, não davam uma para a caixa em Inglês. O tédio era total. Chorava, chorava... O comissário fazia perguntas, nem o ouvia. Lá me trouxe uma manta. Mais tarde uma almofada. Acho que ele se deu conta do meu medo.

Aterrei (em vez de às21h30, às 01h00 da matina) e nem sei bem qual foi a mistura de sentimentos, sei que senti uma descarga gigante... umas dores de cabeça... nem sei.. Odiei o medo. Até me lembrar desta, viagens, só de carro.

Depois de ver 5 gajas aos gritos a gritar "vivós noivos, eh eh eh", a coisa ia, vagarosamente e penosamente, voltando ao lugar.


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